Quintal Cipozinho: conheça o projeto que mostra o potencial da educação ambiental

Projeto se inspira num movimento mundial para 'desemparedar' a infância

Por Juliana Perdigão

No Quintal Cipozinho, as crianças aprendem em constante contato com a natureza | Foto: Projeto Preserva

Nas nossas viagens em busca de iniciativas para o Mapa de Soluções Ambientais, chegamos à Serra do Cipó, em Minas Gerais, conhecida pela riqueza de águas e milhares de espécies endêmicas do Cerrado, ou seja, relíquias que só existem ali. Foi lá que encontramos o Quintal Cipozinho, um projeto de educação não formal voltado para crianças, baseado na real
conexão com a natureza.

O espaço tem uma mata bem cuidada e é debaixo das árvores que os meninos e meninas passam a maior parte do tempo. O projeto se inspira num movimento mundial para “desemparedar” a infância, diferente do modelo tradicional de arquitetura escolar, em que as crianças ficam muito tempo em espaços fechados.

A educação ambiental é parte natural desse trabalho: as crianças aprendem sobre a flora do bioma em que a Serra do Cipó está, elas conhecem frutos e sementes, sabem os nomes de algumas árvores e se conscientizam da importância do Cerrado.

Pais e professores das escolas da região também recebem formação específica com aprofundamento para adultos. Os encontros são organizados na mesma mata, mas para difundir conceitos, abordar as questões climáticas, os direitos e deveres de cada cidadão.

Esse projeto é inspirador porque mostra o potencial transformador do conhecimento quando oferecido de forma sistemática, profunda e alcançando todas as camadas de uma comunidade.

O Brasil tem uma Política Nacional de Educação Ambiental, mas precisa avançar em programas que cheguem a todas as crianças, adolescentes e jovens, levando informação qualificada e
específica para cada idade. De maneira continuada.

É curioso notar que a educação ambiental já constava na Declaração de Estocolmo em 1972, quando houve a primeira grande conferência da ONU sobre meio ambiente. O compromisso foi reafirmado na Agenda 2030 da ONU, que, no ODS 4, destaca a necessidade de formar cidadãos preparados para lidar com a crise climática. Mas a maior prova que o mundo também falhou na implementação da educação ambiental é o ponto a que chegamos: produzimos
sociedades alienadas, alheias à dependência que temos dos ecossistemas. Sociedades que naturalizam a exploração predatória de recursos, como a única possível.

Sem educação ambiental, nos tornamos adultos que não se reconhecem como parte da natureza e essa desconexão, principalmente agora, revela um profundo distanciamento do real. Para além disso, a falta de uma educação aprofundada não produz cidadãos ativos. Como efeito, há um desconhecimento geral sobre as leis ambientais, as formas de agir para proteger os recursos e garantir a justiça socioambiental. E, mais que nunca, precisamos nos educar e conhecer os direitos ambientais garantidos pela Constituição para exigir o cumprimento das leis.

Já sabemos que a crise climática não será resolvida com mudanças individuais isoladas, mas a ação social coletiva, organizada e estratégica pode ser transformadora e garantir, ao menos, um pouco de justiça em meio ao caos.

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