Projeto coloca a natureza no centro do aprendizado

Educação ambiental para crianças na Serra do Cipó
As brincadeiras na mata são atividades cotidianas do Quintal Cipozinho. Foto: Projeto Preserva

A roda de conversa é embaixo de um pé de Jatobá, na Serra do Cipó. As crianças expressaram o que estavam vendo e sentindo, já que o incêndio descontrolado atingiu várias áreas da região e do parque nacional, na última semana.

Frases como: “Eu vi a montanha pegando fogo”, “Meu pai não dormiu porque foi apagar o fogo”, se misturavam a reflexões: “a gente tem que cuidar da natureza porque é nela que a gente vai viver”.

 

Atividade em roda feita pelo projeto Quintal Cipozinho –  Foto: Projeto Preserva

As crianças fazem parte do Quintal Cipozinho, projeto de educação não formal baseado no brincar e no contato com a natureza. É em Santana do Riacho, cidade sede da Serra do Cipó, um dos endereços desse movimento educacional que tem a missão de “desemparedar” a infância e conectar as crianças à natureza.

O Quintal Cipozinho tem um espaço com uma mata bem cuidada, que recebe crianças de até 8 anos. Apesar de ter algumas salas de aula, é debaixo das árvores que os meninos e meninas passam a maior parte do tempo.

“A missão do quintal é reconectar as crianças com o espaço ao ar livre, em possibilidade de contato com a natureza e trazer a aprendizagem mediada pela natureza”, conta Fernanda Araújo que é assessora pedagógica e coidealizadora do projeto.

Momentos de brincadeiras na mata do Quintal Cipozinho – Foto: Projeto Preserva

Crianças e recreadores limparam a mata juntos, para que todos pudessem explorar os espaços com segurança: recolheram os excessos de galhos caídos no chão, criaram lugares para a contação de histórias, para o lanche, para as brincadeiras. É assim desde que o projeto começou, há três anos, no terreno da Fundação Rio Cipó. A diretora Jussara Meira preparou a mata junto com as crianças e desenvolve nela as principais atividades do projeto.

“A gente faz pintura, contação de histórias e brincadeiras de roda. Tudo se baseia aqui, nessa floresta. Então muitas das atividades que são feitas em sala, nas escolas tradicionais, a gente traz para a mata.  É trazer eles pro espaço que eles gostam naturalmente. Não tem segredo. A gente não teve muita dificuldade para transformar isso aqui na sala de aula deles, no quintal deles”, diz Jussara.

Contação de histórias na mata –  Foto: Projeto Preserva

O projeto Quintal Cipozinho começou com seis crianças e hoje atende a alunos das redes municipal e estadual explica Fernanda. A pandemia deixou ainda mais evidente a urgência do projeto.

“A arquitetura escolar está num modelo muito emparedado, em que as crianças ficam muito tempo em espaços fechados. A pandemia mostrou como elas precisavam de espaço ao ar livre. Nessa situação, a gente vê a importância de elas estarem ao ar livre, brincando ao ar livre, desenvolvimento suas habilidades psicomotoras e em contato com a natureza”.

A educação ambiental é parte natural desse trabalho. Ao brincarem na mata, as crianças aprendem sobre a flora do bioma em que a Serra do Cipó está, o Cerrado. Elas já conhecem muitos frutos e sementes, sabem os nomes de algumas árvores. “As crianças têm a consciência de que estão no Cerrado e o bioma é muito rico. Aqui a gente colhe sementes, frutos, folhas. Tudo baseia aqui nessa mata”, conta Jussara:

“O que as crianças aprendem aqui, elas levam para casa. Elas espalham essa sementinha. Essa mata, por exemplo, que é a grande referência delas de natureza, passa a ser também para os pais, para os avós.  As crianças contam com orgulho que elas que limparam e que cuidam e ensinam esse cuidado. Então a importância da preservação vem junto com isso.”

Educação ambiental também para pais e professores da Serra do Cipó

O Quintal Cipozinho realiza ainda o projeto Cine Educa, voltado para educadores e pais de Santana do Riacho.

A tela de cinema e as cadeiras são montadas à noite, debaixo das árvores da mesma mata. A sessão de cinema tem a missão de difundir os conceitos de uma pedagogia que valoriza a infância conectada à natureza.

Sessão de cinema é atividade formativa para educadores – Foto: Projeto Preserva

No documentário que acompanhamos durante a reportagem, “O começo da vida 2”, especialistas de vários lugares do mundo mostram evidências de como a falta de contato com a natureza contribui para problemas físicos e mentais.

“O Cine Educa tem uma proposta formativa. Depois de alguns anos trabalhando com as crianças, pensamos ‘por que não estender também aos pais e professores de outras escolas’? Com o apoio da Secretaria de Educação de Santana do Riacho, conseguimos fazer esse momento formativo dentro da floresta, mostrando para esses professores que é possível educar essas crianças ao ar livre”, explica Fernanda Araújo.

Por aqui não há dúvidas de que “desemparedar” a infância contribui para formar cidadãos mais comprometidos: “essa conexão e o respeito pela natureza podem gerar futuros indivíduos mais conscientes do papel de proteger o planeta”, diz Fernanda.

 


 

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