Uma gigante foi revelada no coração da Mata Atlântica mineira: a maior árvore da espécie jequitibá-rosa já registrada no Brasil foi encontrada na Reserva Biológica da Mata Escura, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
Ela tem 65 metros de altura e 5,5 metros de circunferência à altura do peito (CAP), consolidando-se como o maior da espécie ainda em pé no país, segundo pesquisadores.

A descoberta foi feita durante uma expedição de monitoramento de fauna e flora, liderada pelo professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Fabiano Rodrigues de Melo.
Segundo Melo, a missão inicial da equipe era localizar indivíduos de muriqui-do-norte, o maior primata das Américas e que está ameaçado de extinção no Brasil. Para isso, foram utilizados drones equipados com câmeras térmicas, capazes de detectar a presença dos animais mesmo entre as copas das árvores. Durante o sobrevoo, a equipe não só identificou os primatas como também localizou troncos de árvores com grande retenção de calor — uma pista valiosa que levou à surpreendente descoberta do jequitibá-rosa gigante.
“Se a gente não tivesse criado a reserva, aquela área poderia hoje estar bem desmatada. São vales profundos, a travessia do rio era de balsa e isso ajuda a explicar porque aquela mata ficou tanto tempo sem ser desmatada. A começar pelo terreno muito íngreme também”, explica Fabiano.
A proteção da Mata Atlântica frente ao desmatamento
A Reserva Biológica da Mata Escura ocupa uma área de cerca de 50 mil hectares, em uma zona de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica de Minas Gerais.
A Mata Escura fica no município de Jequitinhonha e há uma parte no município de Almenara. Ela foi transformada em reserva biológica logo depois da pesquisa de doutorado do professor Fabiano Melo, em 2003.
Hoje, a Reserva da Mata Escura é uma unidade de conservação proteção integral, ou seja, não é permitida a interferência humana direta ou modificações ambientais e a visitação só é permitida para fins científicos ou educacionais, com prévia autorização.
A Unidade de Conservação (UC) já contabiliza aproximadamente mil espécies de fauna e flora registradas.
Minas Gerais foi o estado que mais desmatou Mata Atlântica entre 2012 e 2022, segundo o MapBiomas. Um novo panorama do desmatamento será divulgado nesta semana.
Com a revelação do maior jequitibá-rosa do país, a Mata Escura reafirma a importância de políticas de longo prazo voltadas à conservação e ao uso sustentável dos recursos naturais.
“Da Mata Atlântica que sobrou quase nada é mata primária e precisamos proteger essas áreas de mata primária porque elas são um banco de biodiversidade”, afirma o professor Fabiano.
Sobre o professor Fabiano Melo

Fabiano Rodrigues de Melo é um biólogo mineiro com mais de 25 anos dedicados à conservação da biodiversidade brasileira, especialmente de primatas ameaçados de extinção. Graduado e mestre pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), obteve seu doutorado em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-doutorado em Antropologia pela University of Wisconsin–Madison, nos Estados Unidos.
Atualmente, é professor associado no Departamento de Engenharia Florestal da UFV, onde coordena o Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra (CCSS/UFV), um criadouro científico voltado à reprodução e reintrodução do sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo.
Melo é reconhecido como pioneiro no Brasil no uso de drones equipados com câmeras térmicas para a pesquisa de primatas, além de ter sido um dos primeiros a realizar translocações de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Ele também é conselheiro do Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB) e diretor de políticas públicas do Instituto Onça-Pintada (IOP), atuando em parceria com diversas organizações voltadas à conservação da fauna brasileira.
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