As secas se tornaram mais intensas e mais frequentes nos últimos 30 anos, com períodos mais duradouros, mais fortes e abrangendo áreas maiores no país. Mas, a série histórica de monitoramento da seca feita pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, o Cemaden, começou em 1950 e, nesses 70 anos, ela prevalece sobre os períodos de chuva.
Embora as enchentes também estejam entre os desastres climáticos mais preocupantes do país, os números mostram que a seca é mais frequente e causa o maior impacto no Brasil.
Em entrevista ao Projeto Preserva, a especialista em seca e coordenadora substituta de Relações Institucionais do Cemaden, Ana Paula Cunha, explicou que a seca é o desastre que mais ameaça o país.
“Em termos de impactos econômicos e sociais é a maior ameaça. A seca no Brasil é o tipo de desastre que afeta o maior número de pessoas (regionalizada) e que causa os maiores impactos econômicos”, explica a pesquisadora.
A especialista do Cemaden afirmou que, até 15 anos atrás, as secas eram mais frequentes no semiárido, mas agora “estão se tornando mais extensivas e intensas. Nesses últimos 10 anos, a seca causou impactos do Sul ao Norte do país.”
O monitoramento da seca no Brasil se baseia em ferramentas que medem a quantidade de chuva que cai e a quantidade de água que se perde pela transpiração das plantas e pela evaporação em solos e rios. Os dados formam o Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração, o SPEI. Na figura abaixo, a seca é representada pela cor vermelha. A série começa em 1950 e vai até 2024.
Os picos negativos na figura mostram também as três grandes secas enfrentadas pelo Brasil a partir da década de 1990. A primeira, entre 1997 e 1998; a segunda, entre 2015 e 2016; e a última, em 2023 e 2024.
A atual seca, segundo o Cemaden, já apresenta valores mais negativos, sendo a mais intensa e extensa de toda a série histórica, ou seja, dos últimos 70 anos.
Impactos na agropecuária e nas bacias hidrográficas
A seca já afeta 80% da produção agropecuária de quase mil municípios do país: 963 municípios tiveram mais de 80% de suas áreas agroprodutivas atingidas.
As bacias hidrográficas de todas as regiões brasileiras, com exceção da região Sul, também foram afetadas, como mostramos nesta reportagem.
Número de queimadas é o maior dos últimos sete anos.
De janeiro até 10 de setembro deste ano, o Inpe detectou 167 mil e 452 focos no Brasil. O número é mais que o dobro na comparação com o mesmo período do ano passado e supera os registros dos últimos sete anos.
As queimadas que se alastram pelo país, são mais uma consequência da seca, afirma o Cemaden:
“Apesar de a maioria dos focos ser causada por ações humanas, a falta de água acumulada potencializa a disseminação descontrolada das queimadas, uma vez que há baixa umidade do solo, vegetação muita seca e baixa umidade do ar.” (Cemaden)
Em Minas Gerais, o número de focos de incêndio entre janeiro e o dia 10 de setembro deste ano mais que dobrou em relação ao mesmo período do ano passado e já superam os últimos sete anos, de acordo com o Inpe.
São 7.640 focos em todo o estado. Apenas os estados da Amazônia Legal e o Mato Grosso do Sul registram números maiores.