Da Lapinha da Serra à Flona Tapajós: o poder das comunidades para um turismo responsável

Sumaúma Gigante, Flona Tapajós, Pará. Foto: Projeto Preserva

A experiência de conhecer a Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, é impactante desde a chegada: na entrada da Flona é preciso registrar o nome na portaria do ICMbio, mas são os moradores que nos recebem e fazem a gestão do turismo e do manejo florestal. São cerca de mil famílias que vivem da extração de baixo impacto e se revezam para atender os turistas. Seu Ananias foi o guia da vez, nos levando mata adentro, por 7 km, até o ponto mais impressionante da região, uma sumaúma gigante conhecida por lá como “Vovozona”.

Essa árvore monumental, de cerca de 900 anos, simboliza não apenas a imponência da floresta, mas a resistência de um modelo que coloca a conservação ambiental e a autonomia das comunidades no centro da atividade turística.

Na Flona Tapajós, o turismo de base comunitária permite que a riqueza gerada permaneça com os moradores e que a biodiversidade seja preservada. Por isso, esse exemplo foi incluído no Mapa das Soluções Ambientais que o Projeto Preserva está construindo. É um contraponto ao que se vê em diversas regiões do país, onde o turismo predatório avança sem controle, comprometendo ecossistemas e culturas.

Na semana passada, a viagem foi por Minas Gerais. Estivemos na Lapinha da Serra, uma vila de Santana do Riacho, na Serra do Cipó, aos pés da Cordilheira do Espinhaço. A vila faz parte de uma Área de Proteção Ambiental, com trilhas pelas pedras, pinturas rupestres, muitas cachoeiras e o lagos formados por uma represa. Tanta beleza fez o turismo disparar nos últimos anos e a paisagem da vila também mudou, como era esperado.

Eco blitz feita por moradores na Lapinha da Serra, MG. Foto: Projeto Preserva

A surpresa foi quando pegamos o caminho para uma das trilhas e encontramos três moradoras uniformizadas e posicionadas numa tenda, no meio da rua. Elas orientavam os turistas a não entrarem com garrafas de vidro, caixas de som e churrasqueiras. A eco blitz foi uma ação da associação comunitária que mirou na educação ambiental e acertou: vimos turistas compreendendo o recado e dando a meia volta com suas bebidas e parafernálias, sem criar problemas.

Em diversos destinos pelo Brasil, empresários e gestores públicos já perceberam que todos perdem quando permitem o turismo descontrolado e as construções desordenadas em áreas naturais. Alguns outros destinos ainda flertam com o descontrole, como nos cinematográficos cânions do Xingó, em Alagoas. Os catamarãs descem o rio São Francisco lotados com centenas de pessoas, música alta e bebidas alcoólicas liberadas. Torço para que nenhum incidente aconteça, mas que a imagem é preocupante e bizarra isso é. 

Não é difícil concluir que o planejamento é o melhor caminho. Afinal, se um lugar se tornou um ponto turístico por sua paisagem natural, ou uma vila se tornou atrativa por suas características culturais únicas, qual o benefício em desconfigurar tudo?

A ideia de pasteurizar lugares e reproduzir rituais e culturas em série precisa ficar de vez no passado. A diversidade dos modos de vida no Brasil é o que faz nossos destinos únicos.

 

 

Receba a Veredas

Receba a Veredas

Receba a Veredas

Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência em nosso site. Ao acessar nosso site, você concorda com a nossa Política de privacidade e nossos Termos de uso atualizados. Mais informação