A vila sem moradores e a preservação compartilhada

O lugarejo no topo da serra é um patrimônio do Serro
Serra da Caroula, no Serro (MG), com a capela de Nossa Senhora das Dores bem no alto Foto: Henry Yu

Casas fechadas, ruas sem movimento e, no centro da vila, a capela de Nossa Senhora das Dores. Esse pequeno conjunto arquitetônico fica no alto da Serra da Caroula, a 18 quilômetros do Serro, região Central de Minas Gerais.

 

Os donos das casas não vivem lá, mas se reúnem na vila uma vez ao ano, para a festa religiosa do Jubileu de Nossa Senhora das Dores. Fora dessa época, as casas voltam a ficar vazias. E são eles que cuidam do lugar.

 
Casa de Nanza Melo, enfeitada para o Jubileu – Foto: acervo pessoal (Nanza Melo)

Nanza Melo cresceu visitando a vila durante as festas religiosas e, há 20 anos, resolveu comprar e reformar uma das casas.

 
Capela de Nossa Senhora das Dores, construída no início do século XX – Foto: acervo pessoal (Nanza Melo)

Essa tradição religiosa na vila começou com a construção da capela de Nossa Senhora das Dores, erguida por um devoto, por volta de 1920. Logo veio a peregrinação e os moradores começaram a pernoitar durante os períodos de oração, como explica a historiadora Zara Simões.

 
“As pessoas começaram a construir barracas apenas para passar os oito dias de duração do Jubileu, em julho. Subiam carregando mantimentos, coisas pra casa. Depois, eles fechavam tudo e só voltavam no ano seguinte”, conta Zara.
 

Aos poucos, as casas foram construídas em volta da capela, mas a tradição de abri-las só na festa religiosa permaneceu. “Antes de Jubileu, as pessoas pintam as casas e sobem a serra levando colchão, cobertor e utensílios pra passar a festa na segunda quinzena de julho”, diz Zara.

 

Algumas pessoas já chamaram o local de Vila Fantasma do Serro, mas os moradores não se identificam com esse nome. Quem é da região chama de Vila Mato Grosso, embora as placas sinalizem para o nome oficial do distrito: Vila Deputado Augusto Clementino.

 
As casas até existem, mas ficam vazias a maior parte do ano – Foto: acervo pessoal (Nanza Melo)
Como os moradores cuidam da Vila Mato Grosso
 

Desde 2000, a vila é patrimônio municipal do Serro. Ninguém mais pode construir e ela não pode ser descaracterizada. A prefeitura faz a limpeza na época do Jubileu, mas são os moradores que se unem para os cuidados ao longo do ano. Nanza conta que eles criaram uma associação informal e um grupo de WhatsApp para facilitar a comunicação.

 
“Todo ano a gente faz melhoria nas casas e eu mesma convido os moradores para a limpeza, quando o mato cresce. Já conseguimos também organizar rifa e bazar para comprar os bancos da Igreja. E compramos”, conta Nanza.
 

Como os outros donos das casas, Nanza nunca pensou em se mudar. Para eles, a beleza é ir para passar o Jubileu. “É um momento de encontro, é um retiro para um período de festa e oração. Quando chega a segunda quinzena de julho, muita gente já começa a subir para organizar as casas. É um clima de mutirão”.

 
A vila é muito bem cuidada pelos “moradores” – Foto: acervo pessoal (Nanza Melo)
Como chegar à Vila Mato Grosso, no Serro
 

A vila fica a 18 quilômetros da sede do município e é preciso seguir a sinalização que indica o distrito Deputado Augusto Clementino. O nome mais conhecido é Vila Mato Grosso, mas ele não aparece nas placas. Aos pés da Serra da Caroula, é preciso pegar a estrada de terra por três quilômetros, morro acima.

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