Em meio aos sons urbanos de Contagem, há um pedaço de floresta suspenso no tempo. Lá dentro, cercado de viveiros e assobios, está Roberto Azeredo, 77 anos, o homem que decidiu escutar as aves.
Roberto é fundador do Crax, um centro de conservação científica de aves brasileiras ameaçadas de extinção. Há quase 40 anos, ele transformou uma mata da Cenibra em santuário genético, laboratório vivo, abrigo contra o extermínio. Criou mutuns, jacutingas e a mítica harpia, a maior águia das Américas. Não por capricho, mas porque alguém precisava fazer.
Descobrimos Roberto durante as viagens do Projeto Preserva, mapeando soluções ambientais. O Crax está entre as experiências que provam que é possível devolver vida ao que parecia perdido. Muitas das 50 espécies de grandes aves que estão ali só existiriam nos livros de ciências, se não fosse esse trabalho.
Roberto percorre conosco muitos dos 400 viveiros mostrando os resultados de 40 anos de dedicação. Entramos no recinto das harpias, onde ele conseguiu a reprodução em cativeiro de forma natural, façanha nunca antes alcançada nas Américas.

Roberto também nos fala das perdas. Da necessidade de constante busca de patrocínio. Da burocracia que quase o fez fechar tudo.
Mas ele não fecha. Nem cansa. Nem vai embora. Ele está ali, firme, enquanto o mundo lá fora gira para longe da natureza.
“Eu já perdi a conta de quantas solturas de aves consegui fazer, mas a devastação dos biomas é um problema na reintrodução dos animais. A gente precisa devolver as matas e florestas a eles”.
No Crax, pesquisadores visitantes e estudantes de várias partes do Brasil e do mundo aprendem sobre linhagens genéticas, simulações de habitats e técnicas de reprodução em cativeiro.
Hoje, Roberto Azeredo é considerado lenda viva na área da conservação. Lenda discreta, como os bichos que protege. É consultado por biólogos, procurado por documentaristas, admirado por quem entende de conservação animal.
Quem passa um dia no Crax sai diferente. O jeito dedicado e firme de Roberto, o modo como ele se curva para observar um ninho, como chama uma ave desconfiada, tudo isso é memória sensorial.
Ao fim do nosso dia com ele, uma última dúvida ficou em mim e não sabia como perguntar. Por que esse homem da área financeira se transformou em conservacionista de aves? “Por que aves?”, não me contive.
A resposta dele me acertou de forma particular. Eu, jornalista e mãe que vive a experiência de ter uma filha já adulta e independente, escutei: “as aves são os animais que mais cuidam dos filhotes. Antes de nascer elas se demoram no preparo do ninho. Daí, vem o tempo de chocar e, quando nascem, levam comida na boca das crias por semanas. E depois de todo cuidado, na hora certa, ainda conseguem empurrar os filhotes do ninho para ensinar como voar, elas são incríveis”.
Para conhecer essa e outras iniciativas que estão regenerando o Brasil, acesse o nosso mapa: projetopreserva.com.br/mapa