O lugar tem no sossego das ruas e da área rural uma das suas principais atrações. O vilarejo é cercado de matas, cachoeiras, afluentes do Rio das Velhas e atrai o turismo. Assim é São Gonçalo do Bação, distrito de Itabirito, na região Central de Minas. A vila surgiu no século XVIII e era ponto de passagem, de encontro, de quem viajava pelas vilas mineradoras, como Itabira, Sabará, e Vila Rica, hoje, Ouro Preto. Ainda existem no vilarejo as ruínas do rancho de tropeiros. Agora, o Bação está para virar, de novo, um ponto de entroncamento, mas marcado pela instalação de um terminal de minério.
Há dez dias, o Terminal Ferroviário de Bação (TFB) recebeu licença ambiental (sinal verde?) da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) para sua implantação. Segundo a Bação Logística, o transporte de minério por ferrovia emite menos poluentes e tem o potencial de reduzir trânsito e acidentes nas rodovias, principalmente quanto ao grande fluxo de carretas na BR-040 e na MGC-356. Mas a localização do terminal contraria a associação dos moradores. Eles enfatizam que não são contra o projeto, mas acreditam que ele deveria ser construído em outro local.
Nós estivemos com o Projeto Preserva no Bação e conversamos com integrantes da associação: “eu acho que o impacto maior para nós, além do do barulho das carretas passando a dois quilômetros daqui do centro, é da poluição do rio, das cachoeiras que existem ao longo do rio”, disse Mauro Antônio de Sousa, diretor do grupo de teatro do local.
“Nós visitamos alguns lugares que têm terminal de minério. Esses trechos são altamente poluídos de minério na beira da estrada. Então isso vai induzir a lama quando chover; a lama que vai para os nossos rios vai cair no rio Itabirito, que vai para o rio das Velhas e vai, no final, para o São Francisco. É questão de abastecimento deles. Será bem prejudicado”. Esse era o temor de Vicente Paulo Seabra da Rocha, proprietário rural na região.
O TFB alega que o terminal está sendo instalado num local que já sofreu uma degradação anterior. E que a área escolhida é a única que “atende a a todos os parâmetros técnicos, ambientais, legais construtivos e logísticos para implantação do empreendimento”. A empresa diz também que “não há quaisquer riscos ao patrimônio cultural e histórico […] que nenhum ponto do centro histórico de São Gonçalo de Bação há visada para área do empreendimento e vice-versa. A capela Nossa Senhora do Rosário e o cemitério estão localizados a mais de 400 metros da área do empreendimento e cerca de 80 metros acima”.

A posição não é compartilhada por Elias Costa de Rezende, morador há duas décadas de São Gonçalo do Bação:
“Eu tenho por mim que este terminal funcionando neste lugar, nós vamos encerrar a história desse local. É o que nós assistimos em outros lugares que possuem terminais de minério em condições iguais a essa. Isso nada mais é do que uma empresa que vai gerar muito lucro para poucos investidores e prejuízo à população de mais de mil pessoas”.