Vai pegar fogo: o que a volta de Trump ao poder significa para as questões ambientais

Cenário mundial com volta de Trump ao poder inspira cuidados e medidas urgentes
Brigadistas combatem incêndio na Serra do Cipó (MG), em agosto de 2024 | Foto: Marcelo Tielo

 

O cenário está posto. Por isso, nós, do Projeto Preserva, fomos conversar com o professor Dawisson Belém Lopes, uma das maiores autoridades em política internacional do país, para saber mais sobre o que pode significar para as questões ambientais a volta de Donald Trump ao poder na maior nação do mundo.

Não era nada inesperado. Desde a vitória de Trump nas eleições presidenciais estadunidenses, sabia-se exatamente que tipo de medidas seriam tomadas, muitas vezes anunciadas, logo no dia da posse. A retirada dos EUA do Acordo de Paris foi uma das primeiras.

Segundo Dawisson Belém Lopes, “os Estados Unidos devem ter uma política externa mais imperial, mais unilateral, isolacionista para alguns temas. Eles vão simplesmente se retirar de cena. Isso está materializado na retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que acaba servindo como metáfora, como síntese. Está materializada essa má vontade do governo Trump, do Partido Republicano, com o multilateralismo, com o método multilateral e com a ideia de que os países devem se reunir, sentar à mesa, trocar ideias e deliberar conjuntamente. Eles repelem essa noção”.

Tal postura é um golpe duro em todo tipo de regime internacional ambiental e nas instituições internacionais voltadas para a governança ambiental.

Mas uma reação ao movimento trumpista, uma espécie de “contramovimento”, segundo o professor, pode ser articulada: “ao se perceber que os Estados Unidos vão ficar de fora, países do Sul global e europeus podem se aproximar para tentar salvar a lavoura, salvar essa agenda”.

Além desses realinhamentos políticos, numa dimensão mais concreta, os eventos extremos climáticos estão cada vez mais marcantes e visíveis. Tragédias, como inundações, fogo fora de controle, aumento da desertificação, já não são apenas cenários possíveis num futuro projetado pelo aquecimento global. A realidade, com suas circunstâncias tangíveis e
consequências concretas, está se impondo.

 

Professor Dawisson Belém Lopes

“Tudo que está acontecendo tem impacto econômico. As enchentes no Rio Grande do Sul significaram um rombo em conta nacional. Tanto o PIB privado quanto o público foram afetados. O aquecimento gera externalidades econômicas de todo tipo”.

Depois de presidir e sediar o G20 no ano passado, o Brasil exerce atualmente a presidência dos Brics (grupo encabeçado por cinco das maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que vai reunir sua cúpula em julho, no Rio de Janeiro, além
de sediar a COP 30, em Belém do Pará, em novembro. Esse tripé compõe a grande aposta que o Brasil faz no multilateralismo.

Dawisson vê com bons olhos a presidência da COP 30 nas mãos do embaixador André Corrêa do Lago, “um dos melhores diplomatas brasileiros”.

“Ele é um quadro clássico. A linha do Itamaraty é uma linha Onusiana desde sempre. E ele está mais blindado, menos suscetível a se curvar aos interesses de uma ou de outra indústria. Claro que vai ter que compor. Assim a gente pode ter esperança de que a agenda e que a posição brasileira, ao fim e ao cabo, sejam menos contagiadas, sejam menos influenciadas por esse interesse da indústria”.

Receba a Veredas

Receba a Veredas

Receba a Veredas