O clima está mudando de forma dramática e mais rápida do que se esperava. Os avisos são cada vez mais frequentes, por parte da ciência e da própria natureza. Do incêndio recorde no Pantanal, superando a espantosa destruição de um terço do bioma em 2020, às ainda recentes inundações no Rio Grande do Sul, temos nos espantado com os eventos extremos no Brasil.
Estamos pagando um preço alto, com vidas humanas e não-humanas, pelo desmatamento e por acinzentar a paisagem. O solo, antes permeável, é hoje uma pista lisa onde a água corre veloz, com força e fúria.
Mas não é a questão de brigar contra a natureza. Ao contrário, é tê-la como aliada. Assim são as chamadas Soluções baseadas na Natureza (SbN), que buscam resolver os problemas das cidades trazendo a natureza de volta ao meio urbano.
Uma das principais ações é o desenvolvimento de cidades-esponjas, conceito criado pelo arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu, priorizando grandes áreas alagáveis e a presença de vegetação nativa. Essas áreas retêm grande quantidade de água. A solução é mais duradoura, sustentável, bonita e produtiva do que diques e represas, segundo o premiado arquiteto chinês.
Jardins de chuva fazem parte de uma solução em desenvolvimento em Belo Horizonte. Existe uma ação demonstrativa implantada no Parque Lagoa do Nado. Eles são formadas por depressões no terreno, cobertas por vegetação. Além de acumular o excesso de chuva, ajudam na recuperação das águas subterrâneas. Os jardins filtrantes funcionam de forma parecida, purificando a água suja por meio da vegetação.
Os parques lineares são implantados em eixos preexistentes, como antigos leitos de rios ou ferrovias desativadas -caso do Parque Linear do Belvedere, em Beagá. À beira dos cursos d’água, evitam inundações, erosão e assoreamento. Muitos abrigam ciclovias e pistas de caminhada. São uma alternativa bem melhor que a canalização, que faz a água correr mais rápido, transferindo o problema para adiante. Ao lado dessa iniciativa, está a própria restauração de rios e córregos.
Telhados e paredes verdes ajudam a melhorar a sensação térmica, além de serem uma alternativa estética. A vegetação que cobre topo e lateral de edifícios ainda é outra forma de trazer mais permeabilidade às cidades.
Todas essas medidas estão ligadas à restauração das áreas verdes. A vegetação ajuda a água a se infiltrar no solo e a segurar sedimentos, reduzindo os riscos de deslizamentos e enchentes. Também proporcionam sensação de alívio térmico. Só para lembrar, o Brasil está há um ano batendo recordes mensais seguidos de temperatura.
Funcionam assim os refúgios ou abrigos climáticos. É claro que uma pequena área com um banco debaixo de uma arvorezinha, abastecida com a aspersão de gotículas de água, não vai resolver o problema de muita gente. Ainda assim, é muito bom para moradores de rua, que têm poucas oportunidades de refresco. E bem melhor que a supressão de mais de 60 árvores para a absurda emissão de carbono de uma corrida automobilística.