“Rio Doce segue contaminado dez anos após rompimento da barragem”, diz cientista

Dano provocado por mineradora persiste no rio e no mar
Imagem mostra água do Rio Doce tomada por lama e assoreamento
Dez anos depois, o Rio Doce ainda sofre com as marcas do rompimento da barragem da Samarco | Foto: Projeto Preserva

 

No ano em que o rompimento da barragem de Fundão da Samarco (que tem a Vale como uma das controladoras), em Mariana (MG), completa uma década, pesquisas revelam que a contaminação persiste nas águas e na vegetação ao longo da bacia.

Um estudo recente conduzido na bacia do rio Doce revelou que os rejeitos de mineração alteraram, por exemplo, a decomposição da matéria orgânica. Os pesquisadores constataram que folhas de espécies nativas decompõem‐se muito mais lentamente nas áreas impactadas, enquanto o capim braquiária decompõe‐se mais rapidamente nesses mesmos trechos.

Essa desaceleração no ciclo natural da matéria orgânica compromete a ciclagem de nutrientes no solo, enfraquecendo a fertilidade e dificultando a regeneração das espécies nativas.

O estudo é resultado da colaboração entre 19 pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, incluindo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a University of Oxford (Reino Unido), a Henan Agricultural University (China) e a University of Minnesota (Estados Unidos), além do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (INCT/CNPq/MCTI).

 

Dano correu para o mar

 

Imagem mostra água suja do Rio Doce, uma década depois do rompimento da barragem da Samarco
A lama tóxica da barragem de rejeitos seguiu o curso do rio, do interior de Minas até o oceano Atlântico, no Espírito Santo | Foto: Projeto Preserva

Na foz do rio Doce, no Espírito Santo, onde se encontra com o mar, as consequências da contaminação continuam e o ecossistema não retornou à condição original.

É o que diz o pesquisador Ângelo Fraga Bernardino, professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Ele coordenou uma rede de pesquisa que avaliou o impacto dos rejeitos na ecologia da região costeira.

Para Bernardino, o Rio Doce não morreu, mas é como um paciente com doença crônica:

“Se você for ao rio hoje, aqui, no Espírito Santo, você encontra peixes. Você encontra alguns invertebrados, caranguejos, coisas do tipo, que vivem no rio. Então o rio realmente não está morto biologicamente falando, mas existem problemas de contaminação, que são invisíveis.”

Dez anos depois do rompimento, ainda há material acumulado no fundo do rio, que continua sendo transportado a cada ciclo de chuva e cheia:

“A contaminação está presente no fundo, nos sedimentos do fundo, na calha do rio, mesmo com a água aparentemente normal. Então o problema maior, nesse caso, é a contaminação do fundo do rio. O ciclo de chuva e de cheia do rio Doce transporta os rejeitos de Minas Gerais em direção ao oceano.”

Bernardino diz que a recuperação do rio Doce depende de uma intervenção ativa, como as que foram feitas em outros desastres semelhantes em rios: “ou seja, uma ação direta de descontaminação, que seria fazer a dragagem, com a remoção dos rejeitos.”

 

Imagem mostra Rio Doce, perto da divisa entre Minas e Espírito Santo
O rio Doce, perto da divisa entre Minas e Espírito Santo | Foto: Projeto Preserva

 


 

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