Esperança no alto das árvores de Minas: os projetos que salvam o maior primata das Américas

Espécie é chave na regeneração natural da Mata Atlântica
Muriquis-do-norte no Parque Estadual Serra do Brigadeiro
Muriquis-do-norte no Parque Estadual Serra do Brigadeiro | Foto: armadilha fotográfica do projeto MIB

 

Era início da manhã na Serra do Brigadeiro e já estávamos registrando o primatologista Fabiano Melo levantar seu equipamento sobre a floresta em busca de um sinal de calor. Ele não procurava incêndio, mas, sim, os muriquis-do-norte, macacos que se deslocam em bandos velozes pelas copas das árvores. Para encontrá-los, o pesquisador usa um drone equipado com sensores térmicos. A tecnologia é uma das marcas do MIB, o Muriqui Instituto de Biodiversidade, que completa 10 anos de atividade no estado.

Os drones são fundamentais para encontrar grupos isolados, mapear novas populações e direcionar ações de proteção, explica o Fabiano, que também é professor na Universidade Federal de Viçosa.
“Com o drone eu consigo contar número de indivíduos, saber se é macho ou fêmea, se é jovem ou não. Eu consigo ver se ele está se alimentando de alguma fonte, se é folha ou é fruto. Eu consigo capturar uma quantidade absurda de informação que eu não teria condições de fazer isso se eu tivesse embaixo deles na mata”. (Fabiano Melo, UFV)

Os muriquis-do-norte são primatas exclusivos do Brasil e são chamados de “jardineiros da floresta”, já que se alimentam principalmente de frutos e espalham as sementes por onde passam, contribuindo para a regeneração natural da floresta. Onde há muriqui, há floresta em recuperação. Mas eles estão ameaçados de extinção: pesquisadores estimam que existem cerca de 1.200 indivíduos na natureza, em populações presentes em Minas Gerais, no Espírito Santo, norte do Rio de Janeiro e sul da Bahia. Por isso, integrar as áreas de proteção da Mata Atlântica é fundamental.

Em outro ponto da Zona da Mata, em Lima Duarte (MG), foi criado um centro de acolhimento, o Muriqui House, que é mais um braço do MIB. É um espaço que recebe e trata indivíduos que viviam isolados, órfãos ou em risco, com a meta de formar um grupo social e, no futuro, reintroduzir os muriquis em áreas protegidas do bioma. Foi lá que nasceu o primeiro filhote em cativeiro, sinalizando que a ajuda da ciência para reprodução em ambiente controlado é um caminho para a conservação da espécie.

Já nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Sossego e Sossego do Muriqui localizadas entre os municípios de Simonésia e Manhuaçu (MG), na Zona da Mata, também celebram o nascimento dos dois primeiros filhotes de 2025. Juntas, as duas reservas protegem 700 hectares de Mata Atlântica e abrigam uma população de 30 indivíduos de muriquis-do-norte. Na luta contra a extinção, cada nascimento de muriqui-do-norte é uma vitória e uma das missões do Projeto Preserva é mapear e dar visibilidade a essas iniciativas.

É preciso lembrar que Minas Gerais é o estado que mais devasta a Mata Atlântica, segundo o último relatório do MapBiomas. Por isso o apoio aos projetos que tentam salvar as espécies da fauna e da flora são urgentes. Como lembra o professor Fabiano Melo, proteger os muriquis-do-norte é, também, salvar a Mata Atlântica.

 


 

Artigo publicado originalmente na coluna do Projeto Preserva, no jornal Diário do Comércio

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